terça-feira, 26 de junho de 2012

O fim dos consoles?


Com a mais recente edição da feira E3 (Electronic Entertainment Expo), uma discussão relativamente velha acabou por ganhar novo fôlego: afinal, nós assistimos atualmente ao fim da era dos consoles? Diante da profusão de novas tecnologias e da filosofia do “pague pouco ou quase nada pelo seu jogo”, haverá ainda espaço no mercado para empreitadas lentas, cuidadosas e tecnologicamente poderosas — do tipo que larga milhões de dólares para trás quando coloca um único título na prateleira?
A dúvida não é sem propósito, é claro. Afinal, ao finalmente dar as caras no palco, o Wii U acabou por receber apenas alguns aplausos pouco acalorados, juntamente com alguns sorrisos de canto de boca. “Afinal, isso realmente representa uma oitava geração de consoles?”, perguntava-se cada presente ao tentar a sorte em pioneiros como ZombiU e New Super Mario Bros. U — incluindo a equipe do Baixaki Jogos.
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Afinal, embora trouxesse texturas melhoradas e algumas funcionalidades divertidas, o Wii U parece não ter realmente convencido que pode ser o próximo passo da indústria. Na verdade, uma indústria que, vale dizer, anda mesmo é duvidando do próprio formato “consoles” — seja qual for a marca consagrada estampada em baixo-relevo sobre a sua caixa plástica. Vale dar uma olhada com mais atenção nesse ponto.
Dave Jaffe e os cavaleiros do apocalipse“A próxima geração de consoles será a última”Naturalmente sem papas na língua, o sempre falador Dave Jaffe foi um dos primeiros a prenunciar o que pode ser o fim de uma era. “A próxima geração de consoles será a última”, disse o criador de Twisted Metal e God of War em entrevista ao site Games Industry.
Na verdade, ele continua: “Veja bem, os consoles estão indo embora. Eu penso que seja o caso de dez anos — talvez menos, mas dez anos é sempre a aposta mais segura, para que você não soe como um idiota. Eis o que eu tenho a dizer: a próxima geração de hardware deve trazer os últimos consoles. E assim deve ser”.
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E há um motivo bastante claro para isso. “Eu não vejo o Wii U e digo ‘Oh, meu Deus, eu preciso ter isso’... Não é questão de simplesmente atacar, mas eu realmente não fiquei encantado com nenhum dos títulos exclusivos do Wii U.” De fato, Jaffe é um dos tantos figurões da indústria que começam a abrir os braços às tecnologias em nuvem e/ou via streaming. Trata-se, portanto, mais de um formato comercial do que de uma nova tecnologia.
  • O Wii U e sua “própria geração”
Dando continuidade às previsões que naturalmente aproveitam o vácuo deixado pela E3, Shuhey Yoshida, da Sony, afirmou que, sim, o Wii U pode representar uma nova geração... Mas em um “percurso” à parte — conforme disse ao site Eurogamer.
Entretanto, quando perguntado pelo referido site se o Wii U seria um concorrente à altura do PlayStation 4 (ou seja lá o nome que o próximo console da Sony assumir), o executivo levantou a grande questão que tem ocupado boa parte dos prognósticos funestos da atual indústria. Afinal, além da Nintendo e da Microsoft, há hoje vários outros competidores no ringue — trocando o boxe exclusivo de outros tempos por uma pancadaria generalizada e imprevisível. Qual será o limite disso?
A indústria de games sob a lupaPrevisões apressadas sobre uma indústria complexa?Em coluna escrita ao site Games Industry, Rob Fahey resolveu colocar especulações amadoras e previsões tagarelas em perspectiva. Para Fahey, a questão não poderia ser mais simples: pregar o desaparecimento dos consoles é simplesmente uma saída “simultaneamente popular e simplória”. De acordo com o redator, boa parte dos críticos é normalmente “tecnologicamente iletrada” e “mantém o hábito alarmante de utilizar sentenças de morte”.
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Trata-se, na verdade — argumenta Fahey —, de um padrão de críticas que, talvez, passe despercebido para grande parte do público. Em suma: o mesmo tipo de argumento que surgiu quando os consoles começaram a ganhar mais poder de fogo:
“O PC estava morrendo [diziam eles] porque os consoles estavam se tornando mais poderosos, com cada vez mais possibilidades online, e a pirataria era um risco iminente. Agora, os consoles estão ‘morrendo’ porque smartphones e afins têm se tornado mais poderosos e ganhado funcionalidades online; soa familiar?”
  • Um mercado suficientemente abrangente
É claro, isso não exclui novos formatos. Na verdade, é provável que apenas uma grande ingenuidade pudesse ignorar formatos em franca ascendência como os modelos baseados em microtransações (dinheiro real por itens virtuais, basicamente) e mesmo a inegável tendência inaugurada pela Valve — cuja existência já deve ser suficiente para neutralizar grande parte das previsões funestas em relação ao “fim do PC”.
É claro que as previsões de um “fim de estrada” para os consoles ganham nova munição dia após dia. As TVs ditas “inteligentes” são um bom exemplo — do tipo que traria, segundo seus batedores, todas as funcionalidades em um único aparelho multifunção. De acordo com Fahey, isso bateria de frente com outra questão insidiosa: a taxa de substituição de aparelhos de TV. “A maior parte das pessoas substitui seus televisores apenas depois de sete anos.”

Em outras palavras, o que poderia ser melhor do que trocar toda a sua TV? Apenas uma parte dela, é claro. Qual parte? Aquela responsável pelos jogos, diriam alguns. Bem, e que nome se dá para essa “parte”? Trata-se dos próprios consoles, não?
Enfim, argumentos fúnebres e opiniões inflamadas à parte, ainda parece verossímil cogitar que a próxima geração de consoles será bastante atípica. De fato, é provável que nem sequer exista um padrão responsável por “medir” o salto entre gerações... Uma prova clara de que o mercado é, hoje, muito mais complexo do que já foi um dia.


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